Micro-Cenários:
A Grande Construção
Tolos leitores,
As palavras de cautela de um velho elfo parecem bobas face à sua missão, mas minha idade e o dente de ursotauro que serve de fecho desse volume devem contar para algo.
Eu era um jovem batedor quando o Emaranhado emergiu da terra, com suas paredes negras coroadas pelas florestas arrancadas de suas raízes e as montanhas deslocadas de Damdurran. Ninguém sabia de sua verdadeira origem, embora a memória de muitos historiadores dracônicos relembraram de sussurros sobre um labirinto amaldiçoado em mitos tão distantes que mais pareciam sonhos. Um comandante orc imprudente fez a primeira tentativa de explorar o labirinto, mas nem ele nem seu bando jamais retornou. Por décadas, o povo de Damdurran faz inúmeras outras expedições. Anões, gnomos, centauros, sílfides, mesmo os tritões entraram na parte do Emaranhado que se elevava a partir do mar, mas nenhum dos grupos regressou. Com o tempo, os monarcas proibiram seus cidadãos de entrarem no Emaranhado, e todos vivemos em medo às margens dessa imensa armadilha mortal.
Quase cem anos após o surgimento do Emaranhado, meus camaradas e eu descobrimos o primeiro ursotauro ao caçar próximo a uma das entradas. Seu pelo negro áspero, presas, chifres e cascos afiados como adagas (tão assustadores para mim agora) nos provocou com o perigo exótico e nós assumimos o desafio de matar essa fera curiosa. Perdi um pé nessa luta, e metade de meu grupo de caça, mas conquistamos o grande ursotauro. Desfilamos com a carcaça, transformando nossa conquista em sensação instantânea. Todavia, foi o que encontramos dentro da fera que atiçou a ganância de Damdurran. Dentro de sua barriga, encontramos um tesouro: um copo de chifre de mármore encantado, um diadema de ouro maciço incrustado com pedras da lua, uma bela adaga decorada em adamante e punhados de pedras preciosas. Em duas semanas, cada nação adentrou o Emaranhado em busca de sua fortuna.
Se foram mais cem anos, leitores e, ainda assim, ninguém que entrou no Emaranhado retornou. Exceto eu. Mas eu vaguei pelo labirinto por quase setenta e cinco anos antes que o Emaranhado, em sua misericórdia cruel, me cuspisse para fora. Implorei a inúmeros grupos de expedição para que abandonassem suas buscas, mas nunca fui capaz de matar a atração do tesouro e da glória. Em vez disso, escrevo esse guia para ajudá-los a desbravar os ermos dentro daquelas paredes, os emprestando minha sabedoria enquanto partem para sobreviver à grande construção.
Preste atenção a meu conselho, e vocês também terão a chance de retornar ao mundo onde existe céu... ou talvez descobrir mais do que imaginava nas profundezas do labirinto.
Fiurendor Ilnon,
Último dos Caçadores Kegdallon
Único sobrevivente do Emaranhado até o momento.
Perigos e Decisões
Ser um caçador por séculos me preparou, mas o mundo do Emaranhado mata seus exploradores por três motivos: exposição a elementos mágicos, fim de suprimentos e os ursotauros. Eu sobrevivi à minha própria maneira, mas vocês podem não estar tão inclinados a compartilhar das trevas de meus atos. Sua moral depende de vocês... ou da versão de vocês que se revela ao serem expostos à possibilidade da extinção. Você deve decidir como sobreviverá aos três perigos do Emaranhado.
- Clima: Encantamentos estranhos conjuraram vento, chuva, relâmpagos e neve dentro do Emaranhado, além de tempestades de mana que sugam a energia vital dos seus ossos e tempestades de fogo que derretem pedras. Quem diria que se deveria estar preparado para condições climáticas em uma masmorra, ainda mais tempestades mágicas? Escudos, armaduras e capas mágicas funcionam até certo ponto, assim como magias de proteção e tendas de pele de ursotauro. Porém, frequentemente, essas tempestades matam. Às vezes, elas acontecem próximas a tesouros ou portas secretas, como se o Emaranhado estivesse protegendo seus mistérios nessas armadilhas de clima. Pisar em corpos congelados ou assistir enquanto um vendaval drena a vida do corpo de sua companheira pode significar que está próximo de descobrir o que está procurando.
- Provisões: Se você não é uma caçadora, suas habilidades de sobrevivência devem ser uma preocupação constante. Pão e cerveja não nascem do lodo da masmorra. Vi bandos inteiros morrerem de fome, trocar equipamento valioso por restos, se voltar ao roubo e até mesmo experimentar com canibalismo. Vocês comeriam um goblin? Um humano? Um elfo, se levados a isso? Uma vez encontrei um troll louco que carregava consigo uma hidra bebê como fonte ilimitada de alimento, mas certamente ele não percebeu que hidras ficam maiores à medida que crescem. Alguma flora e fauna da Damdurran conseguiu se instalar dentro das muralhas do Emaranhado. Além dos ratos e morcegos de sempre, já vi árvores, flores, cogumelos, górgonas, unicórnios, fadas, e mais, todos adaptados à escuridão e magia do labirinto de formas assustadoras. As exigências da cadeia alimentar do Emaranhado vale para todos e você deve decidir onde pertence nela.
- Ursotauros: De quase três metros de altura, esse predador do topo da cadeia alimentar caça em seu habitat labiríntico mais por olfato do que por visão, atraído especialmente pelo cheiro de sangue. Escondam-se, lutem ou fujam, porque conversar não é uma opção. Eles comem de tudo, e sua fome nunca acaba.
Não importa o que os impele a entrar no Emaranhado, você precisará enfrentar essas três realidades duras desse ambiente interno. Por que estão tentando encarar os perigos e o que os fazem ter tanta certeza de que não morrerão?
Ganchos de Aventuras
1. Recompensas: Você e seu grupo estão em busca de tesouros? A promessa de armas encantadas, artefatos mágicos, ouro além dos seus maiores sonhos te atraem? Também atrai Damdurran. Reis, rainhas, comandantes, mestres de guilda e até o magnata corrupto ocasional ofereceram imensas recompensas pela fortuna do Emaranhado nos últimos cem anos. Em troca, eles oferecem títulos, terra, favores, magias e conhecimento, toda a glória da terra. Algumas delas podem te interessar:
- Rainha Vanya Scepterian XXII, a última regente de uma dinastia humana falida, ofereceu uma ninhada de esfinges excepcionalmente raras que veem o futuro em troca de joias e ouro o suficiente para encher o sapato de um gigante. Considerando que essas criaturas são consideradas há muito extintas, esse é de fato um acordo único.
- O alto necromante Modred Kythaliess dos elfos negros teve visões de um cálice da imortalidade ironicamente entalhado do crânio do primeiro elfo, que ele acredita estar na masmorra mais profunda do Emaranhado. Ele promete dividir seu conhecimento secreto sobre ressurreição e reanimação se trouxerem a ele o que ele deseja.
- O comandante orc Zygrim Ogzah Boca de Fogo, descendente direto do orc original que entrou primeiro no Emaranhado, prometeu sua filha como um prêmio a qualquer criatura que puder dar a ele evidências que revelem o destino de seu ancestral. A filha de Zygrim Ogah, Rugpugnugla, considerada belíssima dentre os orcs (com dentes perfeitamente desproporcionais e os pêlos de verrugas mais charmosos) também vem com o dote de metade dos vastos ermos de seu pai e a promessa do trono da tribo orc.
Entrar no Emaranhado tão a fundo significou a morte certa a todos os que buscavam seus tesouros, então qual é o preço que o incitaria a entrar? Que preço você pagaria em corpo, mente ou alma para chegar ao tesouro? E se tiver sorte de tirá-lo do Emaranhado, você ficaria com ele? Mesmo se fosse amaldiçoado?
2. Descoberta: Talvez o mistério te atraia mais do que a glória ou o ouro. Por que o Emaranhado surgiu da terra? Por que me deixou sair e a ninguém mais? O que são os ursotauros? Revelarei algumas peças do quebra-cabeças que pode inspirá-los a investigar:
- Uma vez, estava preso em uma série de corredores por um mês. Enquanto estava lá, um espírito de uma raposa atravessou uma parede por perto. Eu estava determinado a descobrir o que era isso, então arranquei os tijolos um a um. O buraco revelou uma alavanca. Com grande dificuldade, eu a puxei apenas para ouvir um rosnar agourento de um maquinário enorme sob meus pés. As paredes desceram abaixo do chão ou se elevaram até o teto. Algumas inclusive abriram novas portas, reconfigurando completamente minha prisão. Através de uma dessas novas portas, espiei o espírito da raposa saltar até os braços de um bruxo fantasmagórico com chifres imensos. Nós trocamos olhares e ele murmurou em um sussurro áspero, “Ser de carne, venha ver o grande cofre que a tranca do labirinto sela”. Fantasmas geralmente significam má sorte, então corri na direção oposta, mas frequentemente me pergunto de que cofre ele falava.
- Por várias semanas próximas ao meu quinquagésimo ano ali, tive a companhia de um halfling que fora abençoado por sua divindade texugo Contasolta Roiraiz com o dom das línguas. Ele se gabou para mim de que conseguia entender a língua dos ursotauros. Embora primitivos e bárbaros, ele disse que se referiam a um mestre que os conjurou para reunir as almas de Damdurran encontradas em suas criaturas vivas, um sacrifício de magnitude tal que poderia despertar um mal ancestral das profundezas da terra. O halfling provavelmente era um mentiroso, mas é possível analisar essa fome aparentemente sem motivo dessas criaturas e se perguntar se não poderia ser verdade.
- Antes de finalmente escapar do Emaranhado, passei por uma série de runas entalhadas em pedras negras. Essas cifras mágicas sugeriam uma rima ou sensatez no meio da loucura do labirinto em seu padrão recorrente de ciclos lunares, constelações e o sol, uma visão estranha em um mundo sem céu. Uma figura também aparecia em meio às runas: uma mulher alta sem olhos que apontava em várias direções com uma varinha comprida. Havia a adição desagradável de presas em seu retrato, então ignorei qualquer direção que ela indicava. Talvez seja por isso que tive sorte o bastante de encontrar a saída, mas ainda estou curioso quanto ao caminho pelo qual ela queria me guiar...